Diante da crise social existente na Venezuela, milhares de pessoas estão deixando o país em busca de qualidade de vida e mais oportunidades. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 2,3 milhões de venezuelanos já atravessaram fronteiras em apenas dois anos. Diante dos últimos acontecimentos, e com a entrada de mais venezuelanos pelo estado de Roraima, o Governo Federal, dentro do processo de interiorização, solicitou apoio das cidades de Canoas e Esteio para o acolhimento dos refugiados.
O ministro do Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame, e o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, estiveram nos municípios nesta sexta-feira (24) a fim de visitar as pousadas onde ficarão abrigados os imigrantes, com previsão de chegada no estado já no início de setembro. Serão três locais em Canoas e outros dois em Esteio. O município vizinho abre 221 vagas, enquanto Canoas recebe 425 cidadãos venezuelanos.
Além da visita, foram assinados termos que garantem os repasses financeiros para as duas cidades. Haverá destinação de verbas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), que vai custear a estadia dos venezuelanos. As Forças Armadas do Brasil darão apoio no fornecimento de alimentos. Os imigrantes poderão cozinhar a própria comida, visto que as pousadas oferecem cozinhas e utensílios domésticos.
Inicialmente, Canoas deve receber R$ 1,02 milhão do Governo Federal. De acordo com o ministro Beltrame, este é um fundo da União para o enfrentamento de calamidades e emergências. O contrato tem duração de seis meses. “Na hipótese desses seis meses não serem suficientes para a integração dos venezuelanos no país, o convênio poderá ser prorrogado. Reforçamos que eles não ficarão desatendidos. Contudo, acreditamos que, pelo perfil das famílias que devem aqui desembarcar, será tempo suficiente para esse processo”, destaca Beltrame, referindo-se a famílias que se voluntariaram para o processo de interiorização.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, há cerca de mil venezuelanos abrigados em Roraima, muitos vivendo em situação de rua, por isso a pressa do Governo Federal em acelerar o processo de interiorização. Desde o início deste ano, já foram interiorizadas 820 pessoas para diferentes estados do Brasil. Para a representante da Acnur, Isabel Marques, a agilidade deste processo é necessária para solucionar este problema social. “O Rio Grande do Sul, mais uma vez, se destaca na solidariedade, protagonizando um episódio de auxílio humanitário, com apoio de toda a comunidade internacional. O planejamento exemplar e a disponibilidade de todas as partes envolvidas no processo nos permite interiorizar um número maior de venezuelanos”, relata Isabel.
Solidariedade e gratidão
O Rio Grande do Sul é um estado brasileiro que teve grande influência de imigrantes durante a sua colonização. O prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato, destacou as raízes da formação étnica do povo gaúcho. “Além da importante questão humanitária, entendo esta abertura da nossa cidade como um ato de gratidão pelos nossos antepassados, que foram recebidos aqui e contribuíram para o desenvolvimento do nosso estado, como os meus bisavós que vieram da Itália e se estabeleceram no Rio Grande do Sul”, comenta o prefeito.
A respeito da participação do município no processo de adaptação dos venezuelanos, Busato revela a intenção de adaptar o Programa Gerações para a nova realidade da cidade. “Nossa ideia é buscar alguns aposentados que possam contribuir com este processo de adaptação. Professores, assistentes sociais e demais profissionais que atualmente encontram-se fora do mercado e queiram retornar às atividades. Através da bolsa auxílio do Gerações, poderemos gerar emprego, renda e ainda dar mais dignidade para estes refugiados”, salienta.
As pousadas, em Canoas, ficam localizadas no bairro São José. As três possuem banheiro e cozinha individual. A partir de agora, os envolvidos no processo passam a se reunir para acertar os detalhes das próximas ações.
