No dia 1º de fevereiro, Canoas completou 610 dias sem alagamentos. Cidade que já enfrentou problemas históricos, como os alagamentos de 1963 e 2013, Canoas solucionou a questão com ações sistemáticas e a adoção de um modelo contínuo e preventivo de manutenção dos canais de escoamento das águas da chuva. Esse tipo de trabalho, em alguns casos, não era feito há pelo menos 20 anos. Somente no último biênio, foram investidos R$ 100 milhões em obras e intervenções de combate aos alagamentos.
A pedido do prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato, já em janeiro de 2017, foi montada uma força-tarefa dentro da Secretaria Municipal de Obras (SMO). A missão foi identificar os principais pontos de alagamento no município. Com os locais mapeados, as equipes das secretarias de Obras e subprefeituras começaram a “atacar” os pontos mais graves de entupimento pluvial. Nesta lista, figuravam regiões mais baixas, historicamente atingidas pelos alagamentos, como Mathias Velho, NIterói, Rio Branco e Guajuviras.
Desde então, a administração municipal adotou um planejamento que sistematizou a limpeza das valas e diques, a execução de macro e microdrenagem, a limpeza de bocas de lobo e os hidrojateamentos. Ao todo, foram mais de 20 valas que receberam limpeza completa, além da desobstrução de mais de 30 mil bocas de lobo. A execução desses serviços, a partir de uma estratégia pensada a longo prazo, trouxe uma nova realidade ao município: o temporal mais volumoso não será suficiente para produzir alagamentos.
“O trabalho de combate aos alagamentos é feito com a adoção de uma estratégia rotineira de manutenção dos canais pluviais. Nossa gestão iniciou um trabalho planejado e estruturado, que não era feito há duas décadas. Hoje, podemos dizer que Canoas está livre de alagamentos, isso porque os canais de escoamentos estão desobstruídos”, afirma Busato.
Uma série de intervenções também foram cruciais para o fim de alagamentos em diversas áreas da cidade. A construção de canalizações auxiliares na Rua 22 de Abril, na Victor Barreto, no Beco do Molinha e na Fernando Pessoa colaboram para o escoamento em regiões que sofriam com o problema de acúmulo de água.
Outra obra que contribuiu para a melhoria foi a reconstrução do bueiro da travessia do Arroio Guajuviras, na Avenida Antônio Frederico Ozanam. Nesta mesma região, também foi feito o desassoreamento do arroio, no trecho entre Ozanam e os limites da refinaria Alberto Pasqualini. Também foi realizada a ativação da bacia de amortecimento na Avenida Farroupilha, que eliminou um ponto de alagamento nesta própria avenida e na Ozanam. Além disso, outra intervenção importante foi a recuperação do muro de gabião no Arroio Araçá, próximo da Guilherme Schell.
Chuva não é mais motivo de preocupação
Antes de a Prefeitura solucionar o problema, Eduardo Perinotti, morador de um beco próximo da avenida Rio Grande do Sul, na Mathias Velho, havia perdido todos os móveis de casa em quatro ocasiões. Em uma das ocasiões, após um temporal durante a madrugada, ele conta que, quando acordou pela manhã, a água estava na altura da perna. “Entrei em desespero”, lembra. Nas vezes em que teve os utensílios domésticos destruídos, Perinotti somou um prejuízo de mais de R$ 10 mil.
Há cerca de um ano, segundo ele, os problemas de alagamento acabaram. “Nunca mais tivemos problema. Quando chove, ninguém se preocupa. Infelizmente, tive que me mudar por causa dos alagamentos naquela época. Perdi muito dinheiro. Mas ainda frequento o bairro e todos falam que o problema foi solucionado”, conta. Na Mathias, local que convivia com frequentes alagamentos, havia moradores que montavam estruturas para manter os móveis e eletrodomésticos acima do nível do chão.
Na Mathias Velho, a obra de revestimento do canal da Curitiba é fundamental para que ocorra o escoamento pleno da água da chuva. A obra que constrói o canal revestido da vala está em fase final, e corresponde aos 1,3 km finais do canal. A última etapa está programada para ser finalizada no início de 2020.
Antes um reduto de alagamentos, o bairro Niterói é hoje um dos locais com escoamento mais rápido de água da chuva. Quem atesta são os próprios moradores, como é o caso de Gladimir Bento, que reside há quase 60 anos na Rua 11 de junho, próximo da avenida Tamoio, via que sofria frequentemente com o acúmulo de água.
Segundo Bento, o trabalho de limpeza de valas e a desobstrução de bocas de lobo mudaram o panorama da região. Antes, qualquer precipitação de maior intensidade alagava boa parte da extensão da Tamoio. O escoamento, de acordo com ele, levada de até cinco horas para ser normalizado. “Os dias de chuva costumavam ser um transtorno para os moradores dessa região. Com os alagamentos, a nossa rotina mudava completamente. Muitas vezes, as pessoas mal conseguiam sair para trabalhar, muitas crianças deixavam de ir na escola”, conta.
Antigamente, conforme Bento, diversos vizinhos chegaram a ter prejuízos materiais na estrutura do imóvel, além de terem perdido diversos móveis que ficaram em contato com a água. “Hoje em dia, quando a gente sai na rua depois da chuva, nem parece caiu água. O escoamento tem sido muito veloz”, afirma.