Crianças e adolescentes de Canoas que têm suspeita de autismo já contam com um serviço especializado. Pioneiro no Rio Grande do Sul, o Ambulatório de Diagnóstico Precoce e Cuidado da Criança e Adolescente com Transtorno do Espectro Autista foi inaugurado no final de abril e já está dando mais qualidade de vida para os pequenos que têm suspeita de autismo. Em cinco consultas, crianças e adolescentes passam por avaliação para validar o diagnóstico do autismo. Além disso, o ambulatório também tem dado assistência aos familiares dos pacientes, para conscientização sobre o convívio.
Moradora do bairro Niterói, em Canoas, a Gabriela Lima decidiu ter filho quando estivesse com a vida já estabilizada. O momento chegou, o planejamento foi feito e, em nove meses, ela já estava com bebê nos braços. Com o passar do tempo, ela se preocupou com o comportamento do filho. “Ele não parava, não dormia direito, não se alimentava. Apresentava algumas dificuldades de adaptação”, disse. Foi aí que, orientada por uma enfermeira, procurou um médico e depois de uma série de consultas, o filho, que na época tinha seis anos, foi diagnosticado com autismo. Desde que iniciou a investigação até a chegada do laudo definitivo, 11 meses se passaram. “Foi um período longo, de incerteza e medo. Não sabia como seriam o futuro do meu filho e da minha família”, lembra a mãe. Para ela, o diagnóstico precoce é fundamental para melhorar a vida não só do paciente, mas também de todos aqueles que convivem com a criança e adolescente. “Tinha dificuldade na creche, na relação com os primos, agia diferente. Foi um período muito complicado que só foi revertido a partir do início do tratamento”, afirma. É nesse ponto que o ambulatório de diagnóstico mostra sua importância.
Famílias participam do diagnóstico
O fluxo de atendimento inicia na Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência do paciente, aquela mais próxima da casa do paciente. Atualmente, Canoas conta com 27 unidades espalhadas por todos os bairros. Quando o médico da UBS suspeita da presença do autismo, encaminha a criança ou adolescente para o ambulatório, situado no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPS IJ). No local, o paciente passa por consultas com psiquiatra, neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo e demais profissionais, que farão o diagnóstico final. A família também receberá o apoio de psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros.
Para a psicóloga da Diretoria de Políticas de Saúde Mental, Dóris Luft, as primeiras semanas de atuação do ambulatório foram positivamente surpreendentes. “Nós tivemos uma grande adesão das famílias, no engajamento ao diagnóstico e tratamento. Não só as mães, mas também os pais têm ido às consultas e se mostram acolhidos com o serviço”, diz a profissional. Dóris destaca que crianças de três e quatro anos têm sido encaminhadas ao local. “É um fato importante, pois quanto mais cedo iniciar o tratamento, melhor será a vida do paciente. O serviço busca justamente fazer o diagnóstico nos anos iniciais da criança para acompanhar e aprimorar o seu desenvolvimento”, comemora.
No mesmo sentido, a diretora de Inclusão da Secretaria da Educação de Canoas e pedagoga, Renata Flores, que acompanha a sociabilidade de crianças autistas nas escolas, frisa que “o diagnóstico até os três anos de idade é mais eficaz, já que o cérebro da criança ainda está em maturação”. Segundo a profissional, em sala de aula, é visível a diferença para melhorar na qualidade de ensino da criança que é diagnosticada precocemente, tanto na aceitação quanto no tratamento.