Em Canoas, pouco mais de 7 mil canoenses, com idades entre 50 e 59 anos, fizeram a segunda dose de reforço (D4) da vacina da Covid-19. O índice é baixo, considerando que esta população é de cerca de 41 mil pessoas.
A Secretaria Municipal da Saúde atua ativamente para que estas, e as demais pessoas da cidade, mantenham suas vacinas em dia. Como forma de mostrar a importância da vacinação, trouxemos a história do casal Márcia e Charles, moradores do Bairro Mato Grande.
“Eu tive a conversa da morte.” Com essa frase, Márcia Brun, hoje com 52 anos, relembra o ano de 2021, quando passou mais de 30 dias internada na UTI do Hospital Universitário de Canoas (HU) com um quadro gravíssimo de Covid-19. Na ocasião, escutou dos médicos o que mais temia. A notícia de que seria entubada. “Lembro de pensar, acabou. Entreguei nas mãos de Deus e depois o que senti foi um vácuo. Foi algo surreal.” Na época, a vacina chegava ao município, contemplando as pessoas idosas, com comorbidades e com doenças crônicas, o que não era o caso de Márcia.
Para Charles, que também teve a doença agravada, porém sem necessidade de internação, foram dias difíceis. “Fazia pouco tempo que eu tinha perdido meus pais. Eles morreram no mesmo dia, com diferença de horas um do outro, ambos com Covid. Se eu perdesse a Márcia, não sei se eu iria resistir.”
Acordar na UTI
Quando Márcia acordou na UTI, não era mais a mesma. Sem a vacina, ela, que levava uma vida ativa, foi atingida em cheio pelo vírus, que lhe levou temporariamente o fôlego, a fala, os movimentos dos braços e pernas e lhe deixou como herança uma cardiopatia e a dificuldade de mobilidade em uma das pernas. “Foi horrível. Eu percebia as coisas ao meu redor, mas dependia dos outros para tudo. Vi muitas pessoas saírem mortas da UTI e agradecia por eu ter passado pela parte mais difícil da doença.”
Quando foi para casa, depois de mais de 61 dias no hospital, Márcia contou com o apoio de Charles e das filhas para retomar a vida. “Eu fazia tudo pra ela. Comida, banho, vestir, curativos. Eu viveria tudo de novo por ela, mas se eu pudesse, mudaria apenas uma coisa. A vacina.” Para Charles, se Márcia, assim como seus pais tivessem tomado a vacina – que não estava acessível para idade deles na época – tudo seria diferente. “Minha mãe contava os dias para se vacinar. Infelizmente, morreram duas semanas antes da vacina chegar na idade deles.”
A importância da vacina
Quando a vacina chegou para a faixa etária do casal, eles trataram de fazer a aplicação. “Quando fiz minha primeira dose chorei pelos meus pais e ri de alegria por eu ter conseguido chegar até ali”, conta Charles, que hoje está com seu esquema vacinal completo.
Tão logo pode, Márcia, que havia perdido o pai por Covid meses depois de sair do hospital, também iniciou a sua vacinação e hoje está prestes a fazer sua quarta dose. “Só quem passa por isso tem consciência do que é. Então, quando tomei minha primeira dose, rezei para que todo mundo ficasse protegido e ninguém passasse pelo que passamos. A Covid atingiu várias gerações de nossas famílias e ninguém se refez das sequelas. E é algo que marcará toda minha vida, dos meus filhos e netos. Eles saberão que nossa família foi atingida de uma maneira muito violenta. Vi pessoas chorando em um leito de UTI para fazer a vacina. Peço que as pessoas tenham consciência e façam a vacina. Não quer se vacinar, ok. Mas tenta entender que é a pior decisão que pode tomar. E estar como eu estive, é a pior coisa da vida. Somente com a vacinação vamos acabar com a Covid.”