Quando descobriu o trabalho realizado pelo Ambulatório T, Rafael Viana, na época com 22 anos, viu a possibilidade de renascer e ser quem realmente é, um homem trans. “O Ambulatório T na minha vida abriu a mente e o mundo para eu conhecer outras pessoas e não me sentir só. Aqui, temos acolhimento e têm pessoas que não se preocupam só em cuidar da nossa saúde, mas querem nos ajudar a crescer na vida fora do ambulatório”.
Criado em 2017 para atender as pessoas transexuais e travestis, o Ambulatório T tem por objetivo acolher e orientar este público. O Ambulatório faz parte das ações da Política Nacional de Saúde Integral LGBT, que contempla ainda pessoas de outros gêneros. Com uma equipe multidisciplinar, formada por assistente social, psicólogo, médico e enfermeiro, o espaço recebe não só a comunidade LGBTQIA+, mas também familiares, amigos e comunidade em geral.
Dentre os serviços oferecidos a partir do Ambulatório está o tratamento hormonal para transição, que é disponibilizado gratuitamente com recursos 100% oriundos do Município. “Canoas foi o primeiro município da Região Metropolitana a ter o Ambulatório e é o único do Rio Grande do Sul a oferecer o tratamento hormonal, totalmente custeado com recursos próprios”, conta Isabel do Canto, enfermeira responsável pela política LGPTQIA+ do Município.
Troca de experiências
O Ambulatório T também promove diferentes grupos de trabalho, para troca de experiência e informações. De portas abertas para toda comunidade, uma vez ao mês o Ambulatório realiza um encontro para dialogar com os profissionais e demais participantes. Nele, assuntos como o processo de transição, a aceitação pessoal e social, trabalho, estudo e família são abordados de maneira leve, a partir da vivência dos próprios participantes.
Isabel conta que, a cada encontro, os grupos ganham mais adesão e que, atualmente, cerca de 270 pessoas são atendidas. “No último encontro ficamos muito felizes pois um casal trouxe a filha, uma menina trans, para participar. Essa atitude mostra a confiança que a comunidade tem em nosso trabalho e, mais do que isso, o amor dessa família com o bem-estar e a saúde da filha”.
O acolhimento na rede
Rafael lembra com alegria como foi sua chegada na rede de saúde. Após descobrir a existência do Ambulatório, o técnico em eletrônica procurou uma unidade de saúde e solicitou o encaminhamento. “De imediato, o atendente me encaminhou para o Centro de Especialidades Médicas, onde passei por uma entrevista e iniciei as consultas com o nosso médico, o Bebeto Azevedo. Ele me passou todas as orientações do processo de transição, os exames necessários e, hoje, estou em tratamento hormonal, custeado pelo SUS. E o mais importante, estou muito feliz”. Explica que o acompanhamento é constante, com realização de exames a cada três meses e, se precisar, também é disponibilizado psicólogo pela rede.
O rapaz conta que foi através destes encontros que ganhou confiança para viver. “Me tornei um cara muito mais aberto e carinhoso com as pessoas. Hoje, sou exemplo para os meus irmãos e minha família. Trabalho, sou respeitado profissionalmente e estudo para crescer na minha carreira”.
Ação nas unidades de saúde
Para melhor acolher a população LGBTQIA+, a equipe do Ambulatório T promove ações de capacitação nas unidades de saúde. A importância do tratamento com o nome social, a não discriminação e o direito aos tratamentos de saúde como qualquer cidadão, são assuntos presentes nas formações. “Falamos desde o que significa de cada letra da sigla LGBTQIA+, o que é identidade de gênero, que o nome social é uma garantia por lei e muitos outros temas, para que a equipe das unidades, que são a porta de entrada das pessoas na rede, faça cada vez mais um acolhimento humanizado,” explica Isabel. Até o momento, colaboradores de 17 unidades participaram da formação.
Como buscar atendimento
O primeiro acolhimento acontece às segundas-feiras, das 8h às 16h. Para ser atendido basta chegar na recepção do Ambulatório, na Rua Ipiranga, 105, junto à Biblioteca Municipal João Palma da Silva.