Roupas sujas de tinta imitando sangue penduradas pela escola, com a seguinte frase: Que roupa você estava usando? Essa foi a forma que 17 alunos da turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal de Ensino Fundamental Paulo VI, no bairro Rio Branco, em Canoas, encontraram para chamar a atenção da comunidade escolar sobre a violência contra meninas e mulheres.
A pergunta faz referência à constante culpabilização que mulheres vítimas de violência são submetidas. É o que explica a professora responsável pela turma, Natália Garcia. “Durante todo o ano, trabalhamos o tema nas nas mais diversas disciplinas, como história e a construção machista de cada período, elaboração de texto e até matemática, com a produção de gráficos a partir dos dados de violência e de feminicídio. O objetivo da iniciativa é debater a igualdade de gênero, o empoderamento feminino, refletir sobre a cultura machista e combater a naturalização da violência contra a mulher”, completa Natália.
A professora explica que a ideia surgiu quando percebeu a naturalização que os alunos tinham em relação ao ciúme, aos relacionamentos abusivos e à própria violência. “Alguém na família tem que quebrar o ciclo, pois os abusos acabam sendo algo comum, que passa de geração para geração”, salienta.
Esse é o caso da aluna Pâmela dos Santos Pereira, de 18 anos, que conviveu com a violência no seu meio familiar. “Eu achava que tudo aquilo era normal, agora, pela educação pude conhecer outra realidade e mudar a minha mentalidade”.
Alice Antunes Veloso, 16 anos, afirma que não se reconhece com tanta mudança de pensamento. “Hoje, sei quem sou, sei quem posso e quero ser, diferente da cultura na qual cresci, que reduz a mulher ao papel de dona de casa”, afirma Alice que quer ser servir às Forças Armadas.
Para a vice-prefeita, Gisele Uequed, idealizadora de iniciativas que buscam o combate à violência doméstica, como o Por Mim e a ampliação do atendimento a meninas a partir dos 14 anos no Centro de Referência da Mulher, a escola é um mecanismo social de suma importância para a conscientização. “As instituições de ensino não são apenas espaços para a educação formal, são, sobretudo, um local de formação cidadã, oportunizando reflexões e conhecimento sobre outras realidades”, ressalta Gisele.
Conscientização também para os meninos
A mobilização foi bem recebida e ganhou o apoio também dos meninos, que se apropriaram da pauta e saíram em defesa da causa. É o caso do aluno Richard Freitas, de 15 anos, do 9º Ano, que destaca que a conscientização dos homens é mais difícil e demorada, mas que é extremamente necessária para quebrar o ciclo da cultura machista. “As mulheres estão conquistando o lugar delas no mundo e nós devemos respeitar as decisões delas”, salienta.
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