O intenso trabalho de acolhimento aos venezuelanos inicia um novo capítulo em Canoas. Faltando pouco mais de um mês para o fim do convênio de cooperação de assistência e acolhimento, a Prefeitura de Canoas, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS), e a Fundação La Salle, contratada para fazer a gestão compartilhada do programa, traçam metas e intensificam ações para que todas as famílias possam se manter de forma independente no município.
Os esforços se concentram no encaminhamento dos que ainda não possuem ocupação para vagas de empregos, além da busca por locações de baixo custo para que os venezuelanos possam morar, após a saída dos CTAs. “Nossa equipe técnica tem acompanhado pessoalmente todos os venezuelanos em entrevistas de emprego, além de procurarmos residências com valores de aluguel que eles possam pagar. Nossa meta é encaminhar todas as famílias para uma situação de independência. O que podemos garantir é que nenhum venezuelano será desamparado”, destaca a secretária de Desenvolvimento Social, Luísa Camargo.
Perfil dos venezuelanos
Canoas foi uma das cidades gaúchas que aceitou receber um grupo de refugiados da Venezuela em 2018, e também a que mais recebeu imigrantes. No total, foram 309 venezuelanos acolhidos. Desde a chegada do primeiro grupo, em 12 de setembro, a Prefeitura está prestando todo o apoio necessário para o processo de integração na sociedade. Logo no início do programa, foi feita uma força-tarefa para traçar um perfil de cada venezuelano. “Tivemos apoio de todas as secretarias da administração. Os esforços se concentraram nas questões de saúde e empregabilidade. Ao chegarem aqui, muitos estavam sem as vacinas em dia, alguns casos de doenças, como malária, fora a questão da baixa imunidade, que, por conta do frio que fazia na época, desencadeou doenças respiratórias na maioria”, revela a secretária Luísa.
Nas primeiras semanas, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) realizou um mutirão de cadastro de currículos no Banco de Oportunidades da Prefeitura, a fim de acelerar o processo de contratação pelas empresas. “Graças a empatia dos empresários e da solidariedade de toda a sociedade, foi possível encaminhar a maioria para entrevistas de emprego. Podemos garantir que todos aqueles aptos a trabalhar receberam indicações de vagas”, revela Luísa.
A secretária ainda explica que as dificuldades encontradas pela equipe de trabalho também passaram pelo comportamento de uma parcela dos refugiados, salientando que muitos dos que foram empregados acabaram desistindo da vaga, demitidos ou sequer aceitaram participar do processo seletivo. “São casos pontuais, mas que precisam ser esclarecidos. Em uma das empresas que fechamos uma parceria, por exemplo, dos cinco empregados, apenas um continua lá. As desistências foram ocorrendo por diferentes motivos, mas o principal é pela não adaptação a regras simples de conduta profissional do Brasil”, reforça.
Outra barreira que dificultou o processo de empregabilidade deles foi a documentação. A maioria chegou a Canoas sem o Registro Nacional Migratório (RNM), o que dificultou a contratação com carteira assinada. “A concessionária do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, ofertou cerca de 100 vagas para os venezuelanos. A contratação ficou impedida por conta do RNM. Estivemos em contato, desde o início do processo, com a Polícia Federal para emitir esses documentos. Os esforços foram de ambas as partes. Conquistamos esse espaço pela iniciativa da equipe, que tem contado com o apoio do setor de identificação de estrangeiros”, explica Luísa.
Até o momento, dos venezuelanos que ainda estão no programa, 44 já possuem o RNM e 46 aguardam a chegada do documento. Apenas as crianças ainda não iniciaram os processos, que serão retomados em março. Os demais estão com a documentação encaminhada, também aguardando agenda para março na Polícia Federal.
Em números
No total, 309 venezuelanos desembarcaram no Aeroporto Salgado Filho, em setembro, para iniciarem uma nova vida. Inicialmente, 222 foram levados ao CTA Argentina, sendo 72 famílias, e 87 para o CTA Farroupilha, sendo 25 famílias, ambos no bairro São José. No decorrer do programa, por casos de violência doméstica, alcoolismo, ameaças e embriaguez recorrentes, alguns venezuelanos precisaram ser transferidos de abrigo.
– CTA Argentina
145 venezuelanos ainda residem no abrigo. 67 pessoas já se desligaram do programa, ou por conta própria ou para trabalhar em outras cidades. Foram 10 desligamentos por questões comportamentais, além de 8 advertências. Atualmente, são 58 desempregados. Destes, 26 passaram por entrevistas pelo menos uma vez e 30 não demonstram interesse por trabalhar, em sua maioria, mães de crianças pequenas. Com relação às crianças, todos os inscritos para vagas na Educação Infantil foram sorteados, sendo que apenas três crianças não conseguiram a inscrição. Algumas mães não demonstram interesse em inscrever os filhos. Já no Ensino Fundamental e Médio, todas as crianças e adolescentes garantiram as suas vagas na rede pública de educação.
– CTA Farroupilha
Atualmente, 68 pessoas vivem no CTA. 20 venezuelanos se desligaram do programa e três foram afastadas por questões comportamentais, além de 20 advertências. Todas as crianças foram matriculadas na educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio. A taxa de empregabilidade é alta no CTA Farroupilha, sendo que apenas dez pessoas estão sem nenhuma ocupação, sendo duas gestantes e dois com mudança encaminhada para outro Estado.
Móveis para doação
Algumas das famílias que ainda estão nos CTAs já possuem contrato de locação de imóveis em diferentes bairros do município. Contudo, ainda não se mudaram pois necessitam de doações de móveis. A Defesa Civil de Canoas está participando do processo de mudança dos venezuelanos, auxiliando nessa questão para que possam mobiliar as suas novas moradias. Para atender os refugiados e a comunidade em situação de vulnerabilidade de Canoas, a Defesa Civil solicita a colaboração da população para o recebimento de doações, através da campanha permanente Ajudar Não Tem Hora. Para doar itens como colchões, pias, armários, geladeira, televisão, entre outros, entre em contato pelo telefone (51) 3476-3400 ou leve as suas doações diretamente na sede da Defesa Civil (Rua Bandeirantes, 450).
O Sou Solidário, projeto de voluntários realizado pela Fundação La Salle, também iniciou uma campanha de arrecadação de móveis e utensílios domésticos para as famílias de venezuelanos que estão em Canoas. Para doar, basta entrar em contato pelo telefone (51) 3031.3169, e-mail faleconosco@sousolidario.org ou pelas redes sociais do projeto. Os voluntários do Sou Solidário se encarregam de buscar as doações em Canoas e nos municípios da região metropolitana.
No dia 31 de março, será encerrado o contrato de aluguel dos dois Centros Temporários de Acolhimento (CTAs). Os valores foram custeados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur/ONU), através da representação da Associação Antônio Vieira (ASAV). O Ministério do Desenvolvimento Social prestou apoio financeiro na promoção de soluções humanitárias, na estratégia de interiorização dos imigrantes venezuelanos, por meio de transferência de recursos no montante de R$ 1,02 milhão, advindos do fundo da União para o enfrentamento de calamidades e emergências. Já as Forças Armadas do Brasil garantiram o fornecimento de alimentos.
Com o término do programa, a Prefeitura de Canoas deve incluir as famílias no Programa de Aquisição de Alimentos para o fornecimentos de cestas básicas. Além disso, o acompanhamento dos venezuelanos será estendido por nove meses, a partir de abril, sendo realizado através de um Centro de Referência ao Imigrante e Refugiado, administrado pela Fundação La Salle em parceria com a Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS).