O que esperar de um grupo de jovens que se reúne para falar sobre assuntos espinhosos, como a depressão, por exemplo? No que depender do empenho dos alunos das escolas municipais de Ensino Fundamental Arthur Pereira de Vargas e Nancy Pansera, o resultado não poderia ser melhor. Sabendo do potencial desses estudantes, o projeto Amor à Vida, mantido pela Prefeitura de Canoas, por meio da Secretaria Municipal da Educação (SME), promoveu, na tarde dessa quinta-feira (19), um bate-papo sobre essa que é uma das principais motivações ao suicídio. A roda de conversa faz parte da programação do Setembro Amarelo, que termina no próximo dia 30.
A timidez dos alunos de 12 aos 18 anos durou pouco. Assim que a coordenadora do projeto Amor à Vida, Joelma Gomes, introduziu a pauta da reunião, os adolescentes se sentiram à vontade para compartilhar as suas experiências e o que sabiam sobre a doença. “O objetivo desses encontros é falar sobre as nossas emoções, sentimentos. Precisamos lidar, não apenas, com a diversidade, mas também avaliar de que forma os nossos direitos e deveres de cidadão estão sendo violados”, explica Joelma.
Para mapear o perfil dos jovens e adultos que estão em fase de formação, uma dupla de alunas do 9º ano da EMEF Nancy Pansera elaborou um trabalho chamado “Depressão na adolescência: doença mental ou frescura?”. Ao coletarem os dados, as estudantes se impressionaram com os resultados obtidos. “Além do EJA, consultamos as turmas do 8º e 9º ano, mas caso tivéssemos ampliado a pesquisa, seja na escola, bairro, ou cidade, os números seriam muito maiores”, relata Vitória Martins, de 15 anos.
Além dos sintomas da doença, as alunas também identificaram casos de automutilação, pensamento suicida e tentativas de suicídio. “Poucas pessoas falam sobre depressão, por isso os jovens não ficam à vontade para falar o que estão sentindo”, comenta Eduarda Silva da Costa, também de 15 anos. De acordo com a diretora do Amor à Vida, Joelma Gomes, o medo do julgamento também reprime os adolescentes com depressão. “Muitas vezes as pessoas que julgam não têm o conhecimento necessário para lidar com a doença. Para reverter esse quadro e salvar vidas, precisamos mobilizar amigos, colegas e familiares”, conclui a diretora.
Sobre o Setembro Amarelo
A campanha do Setembro Amarelo é organizada, nacionalmente, pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com o apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM). Anualmente, são registrados 12 mil casos de suicídio no país, enquanto no mundo o número chega a um milhão. Mais de 96% dos casos estão relacionados a transtornos mentais, como a depressão, dependência química, entre outros.